19/12/2010

LEMBRANÇA RURAL


                                           
Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.
Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva.

Casebres caindo, na erma tarde. Nem existem
na história do mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa...

Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.
Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa...

Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
bom para ver de frente os olhos turvos das palavras,
para andar à toa, falando sozinha,
enquanto as formigas caminham nas árvores...

Cecília Meireles
In Vaga Música


2 comentários:

Mara teresinha barreto Voigt disse...

Muito lindo.O texto me transportou para a paisagem descrita,fazendo por uma fração de segundos,eu me sentir parte da história tão minuciosamente,conta.

Anônimo disse...

muito
ruim
em...

vamo aprimorar isso ae tia