29/04/2012

CHINÊS



De uma opalina brecha entre nuvens, o luar
conta a custo as pontudas sombras dos bambus;
pinta o reflexo da ponte com a corcova de uma gato
redonda e límpida sobre as águas.

São imagens que ternamente amamos
sobre o fundo apagado do mundo e da noite,
com encanto a flutuar, por encanto traçadas
e já riscadas pela hora seguinte.

Sob a amoreira o poeta embriagado,
que maneja o pincel como segura o copo,
descreve a noite de lua que propícia o empolga,
suaves sombras e luzes que passam.
Os traços rápidos do seu pincel
desenham nuvens e a lua e todas as coisas
que em sua embriaguez seguem passando,
para poder cantá-las tão fugazes,
para animá-las com sua ternura,
para doar-lhes alma e permanência.

E elas passam a ser intransitórias.

Hermann Hesse
In Andares 

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