05/02/2013

NA RELVA DEITADO


Então tudo isto é mágica de flores,
é campina estival com seu frouxel de cores,
ampla ternura de céu, zumbir de abelhas?
Tudo isto é sonho de algum suspiroso deus?
Forças de instinto a clamar pela redenção?
E na distância a linha da montanha
temerária e formosa a alterar-se no azul,
também é espasmo só?
É só selvagem tensão da natureza em fermento?
É só dor, só tormento, mera agitação
num tatear sem fim, sem sentido e sem glória?
Ah, não! Longe de mim, sonho ruim
das aflições do mundo!
A luz da tarde picam-te nuvens de mosquitos,
atordoam-te aves agourentas,
sopra de ti um vento
que com adulação me esfria o rosto.
Longe de mim, velhíssima dor do homem! 
Pode ser tudo tormento,
pode ser tudo sombra e aflição
- mas esta hora  doce de sol,  não,
nem este aroma de trevo encarnado,
nem este intenso e terno bem que estou sentindo
no coração!

Hermann Hesse
In Andares - Antologia Poética
Tradução de Geir Campos
Tela  Arthu Hughes

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